“Tudo parecia calmo e comum na superfície… Mas no fundo, era o início de uma grande revolução”.

A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões é uma obra escrita pela Autora Louise O’Neill, onde nos mostra uma releitura do famoso conto de fadas mas trazendo uma perspectiva totalmente diferente ao leitor nos fazendo refletir dentro de um viés feminista sobre o emponderamento feminino, em um mar dominado por homens machistas que inferiorizam as mulheres. Quantas coisas devem se passar no fundo do mar, não é mesmo? Em “A Pequena Sereia e o Reino da Ilusões” nós conhecemos um Reino em baixo d’água, onde existem Sereias, Salkas (consideradas do mal), Rei do Mar e no meio disso até guerras.
O Rei do Mar é machista, ambicioso, egocêntrico e possui cinco filhas, todas submissas ao pai, todas obedientes conforme foram criadas e ensinadas a se portarem. Dentre as cinco filhas a que o Rei mas exibe como um troféu, sua filha caçula Muirgen. A filha que tem apenas 15 anos mas já está prometida a um ancião do reino por ordem do pai. As filhas do Rei, em geral, devem mostrar o quanto adoram e obedecem ao pai e jamais discordar dele.
O contrário do que pensa sua filha Muirgeen, a preferida que mantém todas as suas observações e curiosidades dentro de si fechado em um casulo porque segundo o que lhe foi ensinado, as mulheres não podem evidenciar tamanha curiosidade.
“Eu sou o diamante da coroa do meu pai, e ele está determinado a me ostentar como tal. Ele sempre exibe minha beleza por aí e toma qualquer admiração subsequente como se fosse um direito”.

O maior desejo de Muirgen é saber o que aconteceu com sua mãe, dizem tantas coisas a respeito, mas de todas as coisas, ela só tem certeza de uma coisa, a resposta para essa pergunta não está no mar, e sim na terra. Algo que pode ser impossível para uma sereia já que elas não possuem pernas, mas…uma pessoa com poderes tão fortes quanto do seu pai, pode sim ajudá-la. Quem leu o livro sabe muito bem que um dos propósitos da pequena sereia era fazer com que um certo homem chamado “Oliver” se apaixonasse por ela, mas em meio a essa oportunidade de viver na terra com suas pernas, ela pode ter uma boa chance de saber o que exatamente ocorreu com sua mãe.
“Tenho tantas perguntas, sabe? Passei anos engolindo todas elas, todas queimando amargamente no fundinho da minha garganta”.
Oliver é um garoto que a pequena sereia viu pela primeira vez e se apaixonou perdidamente, e uma das restrições que foi informado para que ela tivesse pernas foi que ela perderia um dos seus bens mais preciosos, sua voz, e caso ela não conseguisse fazer Oliver se apaixonar por ela até a lua cheia, ela simplesmente morreria. Em sua loucura apaixonada e desenfreada a pequena sereia aceitou o desafio, mas queridos leitores, eu fiquei angustiada quando ela perde a fala e com certeza vocês também ficaram.


Parar em lugar desconhecido e andar com as próprias pernas vai ser um desafio, mas conquistar um coração apenas com sua “beleza” sem sua voz vai ser uma tarefa bem mais complexa do que qualquer outra. Abdicar tanto de algo que você gosta por outra pessoa que você desconhece completamente, não é algo admirável e pode ser um erro terrível, ou não.
“Mas se sempre foi assim, quem sou eu para desafiar as regras? E como eu poderia? Se nem consigo falar, me dou conta de repente, não posso mudar nada”.

Muirgen vai se dar conta da força que as mulheres tem na sociedade e de que as mulheres podem ter sim personalidade, ingenuidade, tomar suas próprias decisões, ter liberdade para se expressar, e principalmente, do quanto são poderosas. Não precisa viver a margem dos outros, não precisa concordar com tudo, e acima de tudo, que nós criamos o nosso próprio final feliz.
A vida não é um conto de fadas e não é necessário um final com “Felizes para sempre” para alcançar os seus objetivos e se transformar em uma pessoa repleta de repertório, auto estima e dono(a) de si mesma. Um livro que me surpreendeu, me trouxe ótimos ensinamentos com um final excepcional. Sabe quando você fica aflita pelo final, e não tem ideia do que vai acontecer? Esse livro traz exatamente isso. Se eu gostei? Sem dúvidas, eu recomendo que todos leiam.
Um livro curto, uma edição maravilhosa, uma capa esplêndida, uma narrativa fluída e uma história de tirar o fôlego.
“Começo a me questionar se quando chamamos uma mulher de louca não devemos também avaliar a pessoa ao seu lado e ver que sujeito andou fazendo para levá-la à insanidade”.